Blog criado com o objetivo de dispor de informações, avanços e curiosidades acerca do trabalho em medidas socioeducativas em meio aberto.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
O SENTIDO DE UMA HISTÓRIA DEPENDE DO PONTO A PARTIR DO QUAL COMEÇAMOS A CONTÁ-LA
Segue uma contribuição do Gerente João, do serviço de medida socioeducativa de Capão Redondo II:
Páginas 13 a 18 do livro “Justiça – Pensando Alto sobre Violência, Crime e Castigo”, de Luiz Eduardo Soares. Editora Nova Fronteira :
Cheguei
a Recife atrasado para a palestra na universidade. Não estava muito a
fim de papo. O que é raro. Costumo gostar de conhecer pessoas e de
conversar. Além disso, táxis são ótimos veículos para conhecer a cidade e
seu espírito e as opiniões comuns da população sobre política, sexo,
crime e futebol. O método não é lá muito científico, mas funciona. A
gente fica com uma visão geral do que a sociedade tem discutido.
Entretanto, naquele dia eu não queria prolongar muito o diálogo. Estava
preocupado com a hora e com as expectativas de meus colegas. Eles tinham
sido muito gentis quando me convidaram, e eu não queria decepcioná-los.
Não
tinha jeito. Enquanto eu tentava repassar a palestra de memória –
primeiro: definir violência; segundo: apresentar os dados nacionais e
internacionais; terceiro: discutir as causas; quarto: apresentar
possíveis soluções –, o taxista insistia em puxar assunto. Contava uma
história depois da outra e nem esperava para ouvir minha opinião.
Emendava logo a próxima. Parecia a Rádio Relógio. Eu tentava escapar,
misturando a rememoração dos temas que planejara abordar com as
paisagens belíssimas de Recife e Olinda.
O
taxista era uma fonte inesgotável. Até que, finalmente, pescou minha
atenção. Parei de contemplar céu, mar, prédios e bairros históricos, e
me concentrei no que ele dizia. E dizia com ênfase, com uma força
verdadeiramente dramática, em um tom que oscilava entre a fúria da
indignação e a delicadeza das emoções sutis. Fui envolvido pelos
sentimentos de meu interlocutor. A história me interessou, como
interessaria a qualquer ser humano. E talvez esteja aí uma das chaves do
fascínio que a violência exerce sobre todo mundo, por atração ou
repulsa. Ela faz, em nós, uma ligação direta com nossas emoções mais
profundas e primitivas: terror, amor, ódio, prazer, dor, as seduções do
poder, o desamparo da impotência, a proteção
paterna, o cuidado materno, a solidão e o abandono, a devastação de
nossa identidade e da autoestima, a incomunicabilidade, a indiferença, o
desprezo, a solidariedade, o egoísmo mais extremo e o altruísmo
heroico, a generosidade e a compaixão, a afirmação que é vida e a
negação radical, que é morte.
Ele
contou o seguinte: um adolescente fez sinal; o ônibus parou. O garoto
entrou. A porta se fechou atrás dele. Havia poucos passageiros: um em
pé, sete ou oito sentados. O jovem sentou-se.
O
motorista do ônibus era amigo do taxista, amigo mesmo, quase irmão –
parceiro da vida inteira. Cresceram juntos. Começaram, juntos, a
trabalhar. Casaram-se na mesma época. As esposas tiveram o primeiro
filho mais ou menos no mesmo período. Eram quase uma família só.
Subitamente,
pondo-se de pé, o adolescente anunciou o assalto. Daí em diante, as
informações não são claras. O que se sabe é que o rapaz atirou no
motorista e fugiu com o dinheiro que roubou dos passageiros. O tiro
atingiu um órgão vital. O amigo do taxista não resistiu. Já chegou ao
hospital sem vida. “Uma estupidez, uma estupidez”, gritava meu
interlocutor. “O senhor sabe o que vai acontecer com esse bandido, esse
assassino, esse monstro?”, indagou.
Eu
mal conseguia pensar no que dizer. Não foi preciso. Ele mesmo
respondeu: “Nada. Não vai acontecer nada, porque nosso país é a terra da
impunidade. Esse pessoal dos direitos humanos vai proteger o garoto. O
delinquente não vai para a prisão porque é menor de idade. Daqui a dois,
três anos, o homicida está por aí, livre, matando outros pais de
família. Ele deveria ser linchado. Pena não haver pena de morte no
Brasil. Queria ver esse cara torrando na cadeira elétrica.”
Sabia
que era meu dever responder, ponderar, repelir a acusação que fazia a
mim e a meus colegas, militantes dos direitos humanos, mas o homem
estava tão emocionado – e cheio de razão em cobrar alguma reação do
Estado – que hesitei e, por um tempo, me calei. Tive medo de ofendê-lo.
Todo sofrimento merece respeito. Naquele momento, não era o homem que
falava; era seu coração, a sua dor. O motorista do ônibus fazia jus ao
luto, ali representado por meu silêncio reverente. Há situações em que
convidar o outro a raciocinar sobre um ponto de vista diferente já é, em
si mesmo, um ato de hostilidade, de incompreensão do drama que a pessoa
está vivendo. Há circunstâncias em que argumentar é impróprio e até
agressivo, independente do
conteúdo da argumentação. Intuindo tudo isso, preferi ficar calado. O
momento não era propício para uma disputa para saber quem tinha razão.
Só me restava dar um abraço e oferecer o ombro ao taxista. Chorar não é
feio. Não é vergonha nenhuma abraçar outro homem. Mesmo um desconhecido.
Tudo bem. Sei disso. Ele também devia saber. Mesmo assim, apesar do
impulso, não tive coragem. Ia ficar meio estranho abraçar o motorista
enquanto ele dirigia. Uma cena triste, que corria o risco de ficar
engraçada. Melhor atenuar a manifestação de solidariedade. Talvez
ficando imóvel e mudo. Certo ou errado, foi o que acabei fazendo.
“E
agora?”, perguntava o taxista. “E agora? O que será da viúva? O que vai
acontecer com os cinco filhos? Que futuro os espera? Ela sempre
trabalhou em casa. Nunca se profissionalizou. Cuidava da casa e já era
demais: pouco dinheiro, a garotada para alimentar, problemas para
administrar, a educação dos meninos e das meninas... E agora?”
“Provavelmente”,
prosseguiu ele, “os mais velhos vão ter de abandonar os estudos e
trabalhar. Como são muito novos, o jeito vai ser vender bala nas
esquinas. Longe de casa e da escola, e perto de gente que mora nas ruas,
entre drogas e esmolas, os meninos vão acabar se perdendo. Aquele
monstro não só tirou a vida de um pai de família, como matou o futuro
dos filhos.”
Fiquei
ali, em silêncio, olhando sem ver as belas paisagens de Recife que
passavam pela janela. Imaginei o sofrimento dos filhos e da esposa do
motorista de ônibus assassinado. Até que percebi que as duas pontas da
história se encontravam: o início e o fim. Tomei coragem e disse ao
taxista: “Veja o senhor como são as coisas: esses meninos que ficaram
órfãos são vítimas, assim como o pai.” Fiz uma longa pausa. O motorista
quebrou o silêncio, complementando: “São pobres vítimas indefesas. E
sinto muita tristeza por eles.” Tomei fôlego e continuei: “Imagine o
senhor esses pobres meninos, pré-adolescentes, crianças, ainda, daqui a
pouco podem estar na rua, sentindo-se abandonadas, com a autoestima
esmagada. Porque, como o senhor
disse, por mais que a mãe se esforce, vai ser muito difícil que ela
consiga sustentar toda a família, mantendo todos os meninos na escola,
trabalhando fora e, ao mesmo tempo, educando as crianças e dando a todas
elas o amor de que precisam, agora mais do que nunca.”
“Justamente”, concordou o taxista.
“Pois é”, prossegui, “esses meninos correm o risco de ir para a rua, envolver-se com drogas, crimes, armas...”
O taxista me interrompeu: “Tudo de ruim, coitados.”
“Um
dia”, retomei meu raciocínio, “um dia, um deles, desesperado atrás de
dinheiro – talvez para comprar crack –, entra num ônibus, rende
passageiros e, sem pensar, atira no motorista e foge”.
Olhei para o taxista. Ele devolveu o olhar, de relance. Percebi que estava começando a entender aonde eu queria chegar.
Concluí:
“O senhor acha que, nesse caso, se isso viesse a acontecer, o órfão de
seu amigo mereceria ser chamado de monstro? O senhor participaria do
linchamento dele? O senhor, se fosse juiz e se nosso país tivesse pena
de morte, o condenaria à morte?”
O taxista dirigia, olhando fixo para frente. Não disse mais nada.
Quando
parou, dentro do campus da universidade, na frente do prédio em que eu
daria a palestra, olhou para mim e respondeu: “Não.”
Paguei
a corrida. Recebi o troco. Desejei boa-tarde. Agradeci. Quando eu saía
do carro, o taxista disse, numa voz mais baixa do que seu tom habitual:
“Nunca tinha pensado por esse lado.” Não perdi a oportunidade e
completei meu argumento: “Uma história muda de sentido, dependendo do
ponto a partir do qual se comece a contá-la. Talvez entendêssemos de uma
forma um pouco diferente o significado do assassinato do motorista do
ônibus se a história de quem o matou tivesse sido contada desde o
início. Não se trata de passar a mão na cabeça de quem comete uma
atrocidade inominável como essa. Não se trata de subestimar a
brutalidade desse ato injustificável. Trata-se de compreender como foi
possível um ser humano ter se desumanizado a ponto
de matar outro ser humano daquele jeito. Se quisermos que isso não se
repita, teremos de agir para mudar essa realidade capaz de desumanizar
uma pessoa. Não adianta, nem é justo, agir por vingança. Isso só
acrescenta à história violenta mais um capítulo violento. Ou seja, isso
só gera mais violência, quando o que eu e o senhor desejamos não é a
vingança, é que violências assim não se repitam.”
Ele balançou a cabeça: “Tem razão.”
Cheguei
em cima da hora. Mal tive tempo de cumprimentar os colegas. Subi ao
palco, saudei a audiência e anunciei o tema da palestra: “Vim lhes falar
sobre violência. Mas pretendo fazê-lo explicando por que o sentido de
uma história depende do ponto a partir do qual começamos a relatá-la.”
Oficina de Grafite
Segue imagens:
Visita ao Museu do Futebol -Pacaembu
Nesta ultima sexta-feira, dia 18/10/2013, adolescentes e Técnicos visitaram o museu do Futebol no Estadio do Pacaembu, infelizmente não foi permitido fotos no interior do museu, mas fica aqui registrado as imagens do estadio e de parte dos adolescentes que participaram do passeio.
Obs:. como forma de manter o sigilo dos adolescentes atendidos por este serviço, os olhos dos adolescentes foram borrados, como medida de proteção.
Segue imagens:
Obs:. como forma de manter o sigilo dos adolescentes atendidos por este serviço, os olhos dos adolescentes foram borrados, como medida de proteção.
Segue imagens:
Adolescentes maravilhados com o Estadio
Técnico João registrando o momento
Nesse momento surge uma pergunta de um dos adolescentes: a gente pode bater uma bola lá agora?
Adolescentes relembrando de jogos que houveram no Estadio.
Técnicos Sergio, João, Cristiano, Willian e Helena
Técnicos Willian, João, Zenilda e Helena
Pose pra foto..
Palestra: As consequencias do uso de drogas.
Ocorrida em Maio, houve pelo Medico Sr. André, palestra abordando os malefícios do uso das drogas.
Na palestra o Sr. André abordou suas experiências com o uso de drogas, os prejuízos em sua vida pessoal e profissional e o modo como conseguiu abandonar esse caminho.
Houve a participação de convidados interessados no assunto, desde adolescentes e familias atendidos por este serviço á profissionais que atuam nesta area.
Fica aqui o nosso agradecimento ao Sr. André que nos enriqueceu com o seu conhecimento nesta data.
Segue imagens:
Na palestra o Sr. André abordou suas experiências com o uso de drogas, os prejuízos em sua vida pessoal e profissional e o modo como conseguiu abandonar esse caminho.
Houve a participação de convidados interessados no assunto, desde adolescentes e familias atendidos por este serviço á profissionais que atuam nesta area.
Fica aqui o nosso agradecimento ao Sr. André que nos enriqueceu com o seu conhecimento nesta data.
Segue imagens:
Encontro com a Defensoria - Defensora Fabiana Zapatta
No dia 07 de outubro aconteceu no serviço de medida socioeducativa Abraço Amigo, o encontro com a Defensora Publica Fabiana Zapatta.
Foram convidados a participarem deste encontro outros serviços de medida socioeducativa, funcionários do sistema de semi-liberdade da fundação Casa e agentes do CRAS e CREAS.
Dentre os temas abordados, foram discutidos:
Adolescentes, uso de drogas e internação
Locais de tratamento
A importância do atendimento para drogadição em meio aberto e os prejuízos desse tratamento em meio fechado.
Reforçamos que ao longo do blog, há varios textos e trabalhos focando este tema que valem a pena serem lidos.
Segue imagens do encontro:
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